Atravessamos a floresta espessa, com o solo úmido rangendo sob nossos pés.
O vento era pesado, carregando cheiros fortes de terra molhada e algo mais... animalesco.
Depois de horas de caminhada, Baek Hojin levantou a mão, pedindo silêncio.
Me abaixei atrás dele, espiando por entre as folhagens.
Foi então que vi.
Uma vila.
Mas diferente de qualquer coisa que eu imaginasse.
Construções feitas de madeira rústica e peles grossas formavam uma pequena comunidade cercada por estacas afiadas.
Vários seres se moviam entre as casas — todos eles compartilhando características em comum:
pelagens douradas, olhos intensos, corpos fortes e musculosos.
Criaturas com traços humanos... e leoninos.
Fiquei fascinado.
— Quem são eles? — sussurrei.
Hojin sorriu de lado.
— Leo'kars.
— Leo'kars?
— Uma raça antiga de meio-humanos descendentes dos leões primordiais da Terra Espelhada.
Orgulhosas, fortes... e extremamente territoriais.
Observei com mais atenção.
A maioria era fêmea — imponentes, caminhando com uma autoridade selvagem.
— As Leo'kars formam vilas como esta para se proteger e se fortalecer — continuou Hojin. — Cada vila é como uma pequena cidade-estado.
Elas caçam, guerreiam entre si, e protegem ferozmente suas terras.
Apontou para uma praça no centro, onde uma enorme fogueira ardia.
— Às vezes, vilas assim se tornam tão perigosas que caçadores as classificam como Dungeons Vivas.
— Dungeons?
— Sim.
Locais onde é praticamente suicídio entrar sem preparação.
Olhei para ele, apreensivo.
— Vamos atacar?
Ele riu.
— Nem pensar.
Por enquanto, só observar.
Ficamos em silêncio por um tempo, espiando as Leo'kars se movimentarem.
Então, me lembrei de algo.
— Quando eu lutar aqui... eu vou ganhar XP, certo?
Tipo... pontos de experiência?
— Vai — confirmou Hojin, sem se virar.
Esperei ele explicar mais... mas ele apenas ficou olhando a vila.
— E... como funciona?
Ele deu uma risada seca.
— Não agora, garoto.
Quando seu Sistema despertar, a gente conversa.
Franzi a testa.
— Por quê?
— Porque entender antes da hora pode atrapalhar mais do que ajudar.
Ele virou o rosto, um brilho estranho nos olhos.
— Confia no processo.
Mordi a língua, me forçando a aceitar.
Então Hojin apontou discretamente para a roupa de uma das Leo'kars, feita com couro trabalhado e penas douradas.
— Outra coisa que precisa saber: as peles, presas, garras e ossos dessas criaturas são valiosos.
— Pra quê?
— Dinheiro.
Muito dinheiro.
Meus olhos se arregalaram.
— Além disso — continuou —, dá para forjar armas, armaduras, equipamentos especiais.
Pensei em uma espada feita de presas monstruosas e uma armadura dourada brilhante...
Mas Hojin logo cortou meu entusiasmo.
— Só que é um trabalho desgraçado.
Você precisa de materiais específicos, habilidades de artesanato, conhecimento de alquimia... é muita dor de cabeça.
Fez uma careta preguiçosa.
— Então, a maioria dos caçadores simplesmente mata, arranca o que pode e vende para especialistas.
— Nada de fazer armadura heróica sozinho?
— A não ser que você queira passar anos estudando isso em vez de lutar... esquece.
Não consegui conter uma risada.
Hojin riu também.
— Nosso foco agora é simples: sobreviver, ficar mais forte e ganhar dinheiro suficiente para mudar sua vida e cuidar da sua irmã.
Fiquei sério.
Lembrei da expressão fraca de Eunha na última vez que a vi.
Eu não podia falhar.
Respirei fundo, firmando a decisão no meu peito.
— E agora? — perguntei.
Hojin sorriu de um jeito predatório.
— Agora, esperamos.
Quando uma Leo'kar batedora sair sozinha para patrulhar...
Você terá sua primeira luta de verdade.
O vento soprou forte, agitando as árvores.
E pela primeira vez desde que atravessamos o portal, eu senti que realmente estava em um novo mundo.