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Chapter 43 - Capítulo 43: Os Dois Dias - Parte 1

O portal azul, como uma lágrima no tecido da realidade, cintilou e se dissipou, depositando Axton e Robin sob o dossel esmeralda de uma ilha exuberante. A luz do sol, filtrada pelas folhas densas, pintava o chão da floresta com um mosaico de sombras dançantes. O ar, denso e úmido, carregava consigo o perfume embriagador de flores desconhecidas e o murmúrio incessante de uma vida selvagem oculta. Robin se desvencilhou do aperto de Axton, girando para encará-lo com uma raiva fria que cintilava em seus olhos azuis profundos, temperada por um resquício de uma tristeza antiga e familiar.

"Por que me trouxe a esta ilha, Axton?" Sua voz, usualmente carregada de um sarcasmo afiado, era agora um sussurro tenso, embargado por uma fúria contida e uma mágoa que parecia ter raízes profundas. Esta ilha... pensou Axton, uma pontada de uma nostalgia agridoce o atingindo como uma onda inesperada. Fora ali, dois anos atrás, em busca de um breve respiro da vastidão implacável do oceano antes de seguir rumo ao distante e relativamente pacífico East Blue, que ele cruzara o caminho de Nico Robin. Ele se lembrava com clareza daquele encontro abrupto: a sensação repentina de mãos brotando da terra sob sua barraca improvisada, imobilizando-o com uma força surpreendente enquanto o sol da tarde lançava longas sombras através da clareira.

"Peço desculpas pelo incômodo," viera então a voz, suave mas firme, de uma mulher que emergira das sombras das árvores como uma aparição. Alta, com a elegância natural de uma pantera, seus cabelos negros emolduravam um rosto de beleza melancólica, e seus olhos azuis o fitavam com uma determinação inabalável. "Preciso do seu barco. Estou presa nesta ilha há algum tempo, e não ficarei aqui nem por um segundo a mais." Axton a achara imediatamente cativante, uma flor rara florescendo em meio ao caos, mas a urgência desesperada em seu olhar e a pressão firme das mãos que o prendiam não eram exatamente um convite para um flerte.

"Entendo," Axton respondera, encontrando a intensidade do olhar de Robin enquanto uma careta de dor involuntária crispava seus lábios. "Posso lhe entregar meu barco e mantimentos, embora deva admitir que esta forma de solicitar ajuda é, no mínimo, inesperada, e um tanto... dolorosa."

O presente agora o confrontava novamente, a memória daquele primeiro encontro se esvaindo diante da intensidade do olhar de Robin. Ele desviou brevemente os olhos para o local onde sua pequena barraca efêmera havia repousado dois anos antes, um ponto insignificante na vastidão da floresta, antes de fixá-los novamente no rosto carregado de emoção da mulher à sua frente.

"Robin," começou ele, a voz surpreendentemente calma contrastando com a tensão quase palpável que pairava entre eles. "Você está atrás de outro Poneglyph, não é? É por isso que está ajudando Crocodile." A pergunta pairou no ar quente, carregada de uma certeza dolorosa que Axton preferia não ter. Apesar da fachada de sarcasmo cáustico e da reputação sombria que a cercava, ele sempre soubera, que a crueldade gratuita não fazia parte da essência de Robin. Se ela estava envolvida com a Baroque Works, havia um propósito maior, invariavelmente ligado à sua busca incessante pela verdade oculta nos fragmentos de história esquecidos.

"Isso não é da sua conta. Me mande de volta e suma do meu caminho, Axton," retrucou Robin, a raiva faiscando em seus olhos como relâmpagos silenciosos em uma noite escura. Axton apenas continuou a encará-la, imperturbável sob a tempestade de emoções que emanava dela.

"Eu conheço você, Robin. Você não colocaria uma nação inteira em sofrimento sem uma razão... ou talvez você esteja ajudando as pessoas de Alabasta nas sombras, protegendo-as de alguma forma. Estou errado?" Axton lançou a última pergunta com um olhar penetrante, como se pudesse desvendar as camadas de segredos e defesas que ela construía ao seu redor, buscando a verdade por trás da máscara fria e calculista.

"Se eu ajudo ou não Alabasta e seu povo não é problema seu," sibilou Robin, a exasperação começando a tingir sua voz, antes que a mágoa a dominasse novamente. "Não foi você quem me deixou para procurar seu paraíso particular? Por que está aqui novamente? Por que não pode simplesmente me deixar em paz e ir embora?"

"Eu não te deixei, e você sabe disso," respondeu Axton, sua voz agora carregada de uma tristeza resignada que ecoava a dor silenciosa que ele carregava há tanto tempo. "Eu sempre quis um lugar para nós, um refúgio da constante turbulência do mundo. Eu sempre apoiei sua busca pelo Século Perdido, mesmo não compreendendo totalmente a intensidade de sua obsessão. Queria um lugar para voltarmos, um lar para chamar de nosso quando não estivéssemos no mar, desvendando os fragmentos perdidos da história. Mas você não aceitou, não entendeu esse desejo. Você acreditou – ainda acredita? – que, como todos os outros em sua vida, eu a abandonaria." A voz de Axton vacilou levemente, a emoção finalmente rompendo a barreira de sua calma habitual. "Eu poderia te levar para literalmente qualquer lugar que já visitei, para os confins do mundo, mas você sempre recusou. Você queria – ou quer, eu não sei mais – continuar essa busca que ceifou tantas vidas, que destruiu Ohara. Eu entendo o desejo, Robin, a necessidade de saber, mas não aceito que você se negue a viver para mais nada. O mundo é maior que isso, ainda existe beleza nele, e você se recusa a enxergar, se recusa a se permitir ser feliz." A voz de Axton tornou-se um sussurro doloroso, a confissão silenciosa de um amor persistente e de uma dor profunda. Desde que se apaixonara por aquela mulher complexa e enigmática, nenhuma outra havia sequer arranhado a superfície de seu coração. Nenhuma outra o havia compreendido tão profundamente, e nenhuma outra o havia ferido com tanta intensidade. Ele a havia deixado não por abandono, mas para construir um futuro para eles, um porto seguro onde pudessem ancorar suas vidas turbulentas entre as expedições em busca da verdade. Ele não conseguia aceitar que a vida de Robin se resumisse apenas à busca incessante por um passado tragicamente perdido, que ela se fechasse para a possibilidade de felicidade e de um lar. E a dor em seus olhos refletia a frustração de amar alguém que parecia se recusar a ser amada completamente.

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